Olá,
Antes de mais obrigado. Pelo porto de abrigo, pelo local seguro. Pela
conversa e pelo desabafo. Obrigado pelo sentido de partilha e pela
preocupação. Sou profundamente agradecido pela pessoas que és e pela
pessoa que me fazes ser. Ainda assim gostava de te dizer que às vezes só
quero um abraço, que às vezes só quero uma palavra e que às vezes simplesmente
não quero nada. Não quero ouvir, não quero saber. Sinto-me culpado por
algum atrito que possa existir na nossa relação. São perguntas a mais
para poucas pessoas. São histórias a mais para um dia. Houve alturas em
que a obediência não se fez ver. Houve vezes em que o castigo não foi
sentido. Mas carregaste-me e devo-te isso. Devo-te toda a tolerância em
momentos de angústia. Devo-te todo o carinho em momentos de desamparo.
Tens as tuas fragilidades, tens os teus minutos de loucura saudável.
Tens os teus defeitos. Não mostras ou mostras pouco aquilo que queria
que mostrasses ao mundo, à vida, ao dia, a nós, a mim.
Sinto
que desiludi em aspectos onde o teu orgulho estava lá. Sinto que
conquistei em situações onde a tua indiferença era cabeça de cartaz. A
vida sempre foi feita de dois momentos: os bons e os menos bons. A nossa
relação foi feita com base na vida. Chamámos apenas de momento mau
àquele onde a fraqueza se fez acompanhar da inércia. Contigo e comigo.
Cara-a-cara. Olho para um a fotografia. Não é apenas um pedaço de papel
com imagens. É um objecto com história e com vida que ganham diálogo aos
meus olhos. Cresci e aprendi. Construímos, descontruímos, trocámos e
ameaçámos. Mas também ouvimos, sentimos, compensámos e amparámos.
Deste-me na cabeça o suficiente para distinguir a linha do limite. Para
ver o meu lado e o outro lado. Para compreender o lado onde querias
estar e o lado onde querias que eu estivesse, contigo. Mas o bom da vida
é percebermos que a certa altura o teu “apontar” pode ser um desvio
daquilo que eu posso conquistar pela minha própria cabeça. A linha do
limite quer ganhar independência comigo. No entanto, foste tu que nos
apresentaste e isso não se esquece.
Contigo sinto que não está
nos gestos, está no olhar. Não preciso de sentir o abraço, o beijo ou o
encosto. Preciso sentir que olhas como és, Mãe. E como me fazes ser,
Filho.
Um beijo
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