Um blogue. Um espaço. Textos livres, soltos, joviais, zombeteiros, eloquentes e quem sabe até profícuos. A liberdade está à distância de uma caneta pousada numa folha em branco. Até lá, és um homem com limites.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
domingo, 9 de setembro de 2012
O SEM SENTIDO TEM SEMPRE SENTIDO
“Isso não faz sentido nenhum”. As pessoas têm sempre a mania de dizer
coisas destas mas eu constatei que o sem sentido tem sempre sentido. Não
existe algo sem sentido porque tudo o que é proferido, feito,
idealizado, vai com um propósito. Vai numa direcção. Até este texto. Se
eu começar a falar dos coentros que o jacaré comeu antes de ir para a
noite, és bem capaz
de reparar que ele só
as comeu porque estava a fazer tempo para apanhar o autocarro. Se o
autocarro por acaso tivesse chegado a tempo, o jacaré jamais iria comer
os coentros. Até porque não tinha tempo. Convém sempre referir que o
autocarro só se atrasou por causa da Idália, a empregada do Zé que é
cliente habitual do 709. Ganhou tanta confiança com o motorista que ele
nunca parte sem ela. Diz que entalou o mindinho na porta que dá para o
jardim e teve que ir fazer um curativo. Todos os passageiros à espera e a
senhora de ligadura no dedo. Diz que ardeu. Mas felizmente tinha por
perto o furão que o patrão lhe tinha dado para lhe fazer alguma
companhia. Eram horas a fio sem conversar com ninguém. E todos nós
sabemos que se há bons ouvintes são os furões. Principalmente os do
Japão. Acho que o Omega do sashimi deixa-os muito atenciosos. No meio
disto tudo, foi um dia pouco produtivo para as empresas porque os
passageiros do autocarro chegaram a horas de terminar o horário laboral.
Se levaram na cabeça? E de que maneira.
Os suricatas que mandam nas Holdings não brincam em serviço. Ou é a horas ou não é. Não há cá desculpas. Nem que a Idália entale o dedo eles perdoam. Mas só com esta exigência é que as empresas podem vingar no mercado. Se bem que o mercado começa a ficar um bocadinho gasto. O peixe já não chega fresco, as mulheres perderam o buço e só abrem ao meio-dia. Ainda te lembras do som profundo dos berros de tais senhoras? Ficava na cabeça. Tudo mudou porque dizem que o Jorge e a Filomena da caixa 7 e 8 (respectivamente) do supermercado acabaram a relação. É capaz! Aquilo já não andava bem. Para além de muito tempo juntos e de trabalharem costas com costas, a exigência do balcão dos enchidos era perturbante. Dezasseis horas sempre a queixarem-se de que a temperatura está demasiado baixa é chato. Ainda não perceberam que é isso que os deixa vivos e com saúde.
Se quiserem fazer uma queixa oficial mais vale falarem com os suricatas. Mandam mais que o Governo. Tratam de tudo. Nisso até são impecáveis. Em menos de 2 horas tinha a casa limpa. Armários, mesas, cozinha, tudo. Ainda lhes estou a dever. Pediram 345 euros à hora e eu naquela altura não os tinha comigo. Achei exagerado. A Idália antes de trabalhar para o Zé, assegurava-me a limpeza e levava menos de 10 euros à hora. Mas por um lado até percebo. Desde que os funcionários chegaram atrasados que o tempo para eles é precioso. Querem aproveitá-lo ao máximo.
Esse momento ficou-lhes atravessado na garganta. Um deles ficou mesmo traumatizado. Entrou em depressão. Isto foi a mulher de um deles que me contou. Começou a desconfiar a partir do momento que refilava por tudo e por nada. Ou era porque a sopa estava fria demais, ou era porque o arroz era malandrinho em vez de ser arroz de coentros. Mas como sabem, o jacaré não deu hipótese.
Os suricatas que mandam nas Holdings não brincam em serviço. Ou é a horas ou não é. Não há cá desculpas. Nem que a Idália entale o dedo eles perdoam. Mas só com esta exigência é que as empresas podem vingar no mercado. Se bem que o mercado começa a ficar um bocadinho gasto. O peixe já não chega fresco, as mulheres perderam o buço e só abrem ao meio-dia. Ainda te lembras do som profundo dos berros de tais senhoras? Ficava na cabeça. Tudo mudou porque dizem que o Jorge e a Filomena da caixa 7 e 8 (respectivamente) do supermercado acabaram a relação. É capaz! Aquilo já não andava bem. Para além de muito tempo juntos e de trabalharem costas com costas, a exigência do balcão dos enchidos era perturbante. Dezasseis horas sempre a queixarem-se de que a temperatura está demasiado baixa é chato. Ainda não perceberam que é isso que os deixa vivos e com saúde.
Se quiserem fazer uma queixa oficial mais vale falarem com os suricatas. Mandam mais que o Governo. Tratam de tudo. Nisso até são impecáveis. Em menos de 2 horas tinha a casa limpa. Armários, mesas, cozinha, tudo. Ainda lhes estou a dever. Pediram 345 euros à hora e eu naquela altura não os tinha comigo. Achei exagerado. A Idália antes de trabalhar para o Zé, assegurava-me a limpeza e levava menos de 10 euros à hora. Mas por um lado até percebo. Desde que os funcionários chegaram atrasados que o tempo para eles é precioso. Querem aproveitá-lo ao máximo.
Esse momento ficou-lhes atravessado na garganta. Um deles ficou mesmo traumatizado. Entrou em depressão. Isto foi a mulher de um deles que me contou. Começou a desconfiar a partir do momento que refilava por tudo e por nada. Ou era porque a sopa estava fria demais, ou era porque o arroz era malandrinho em vez de ser arroz de coentros. Mas como sabem, o jacaré não deu hipótese.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
O OUTRO LADO
Esta
noite sonhei. Sonhei que tinha em mim pretensões de chegar ao cume da
serrania mais remota. Sonhei que lá chegava. Sonhei que tocava no céu e
de cima admirava o mundo. Um mundo grande com gente dentro. Um mundo com
pequenos mundos interligados entre si. Um mundo com histórias que fazem
pessoas. Um mundo verde e azul. Da lagoa mais profunda à onda perfeita,
da vegetação condensa
ao vale despido. A ambição era só uma:
conhecer o outro lado. O deserto tinha frio e o fogo tinha sede. O mar
queria secar e a terra mergulhar. É o lado oculto da nossa realidade que
não vemos ou não queremos ver. É o lado da vida que não vivemos ou não
queremos viver. O lado louco da modéstia que nos chama a atenção mas só
nos sonhos tem resposta.
Esta noite sonhei. Vi descampados
iluminados com o rasgo do sol a chamar por mim. Sonhei que a vida não
tinha enigmas. Decifrávamos a linguagem com o poder do amor.
Explicávamos o amor com o poder da linguagem e aclarávamos o poder com a
linguagem do amor. Não havia dolência, a loucura era servida à mesa e
as pessoas sorriam de manhã à noite. Tocávamos o infinito e o infinito
fazia questão de se mudar para nos deixar passar. Vi um lado que hoje
não vejo. Não sei para onde foi mas sei que existe. Tudo parecia fácil e
provocava-nos para querermos ir mais longe. Um lado onde o diabo amava.
Acordei e vi apenas o lado de cá. Saí de casa para tomar café e comprei
o jornal. Este lado fez questão de me mostrar mais um dia, mais uma
rotina, mais uma história. As pessoas são feitas de história e a
História precisa de pessoas. Há sempre dois lados. Este….e o outro.
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