domingo, 25 de novembro de 2012

A HISTÓRIA QUE TODOS PROCURAVAM

Esta é a história de que todos andavam à procura. Longas foram as horas de vasculho, de procura, de inquietação e de questionário. Ei-la, numa noite chuvosa de Lisboa.

Há muito tempo atrás, numa ilha deserta chamada N’tara, nascia uma criança com muito pêlo. As condições para o nascimento não eram as melhores dado que N’tara fi
cava no meio do oceano e nada havia à sua volta a não ser água. Era necessária uma preciosa ajuda humana e não ambiental. Ventos fortes e chuva quente davam as boas vindas ao novo rebento e membro da comunidade. Nesta ilha viviam apenas 300 habitantes. Uma população muito honesta e tradicional onde todos se cumprimentavam com o olhar. Não havia contacto físico. Tudo era feito através dos nossos olhos e de acordo com a intenção que vinha de dentro. Os olhos comandavam o resto. Sim, estás a perguntar: “Então como nasceu esta criança cheia de pêlo?” e a resposta é simples: dois N’tarianos contemplavam-se mútua e intensamente quando uma incontrolável tempestade tropical se abatia sobre a ilha e trazia com ela pequenos e soltos pedaços de lã e borboto do continente.

Esta criança não tinha nome. Todos pensavam que a desmedida quantidade de pêlos era doença e que a criança tinha pouco tempo de vida. Mas o que não sabiam era que estavam completamente enganados. Esta era uma criança rara, com uma inteligência acima da média e com conhecimentos de um verdadeiro superdotado. Mal tinha acabado de nascer e já sabia todas as línguas do mundo. Era estranha mas ao mesmo tempo era uma criança com um certo encanto e respeitada pois todos achavam que iria ser muito influente quando crescesse. Já o consideravam o Pai de N’tara.

Nesta ilha apenas existia madeira, pedra, trigo e ovelhas. E não, não sonhei com os descobridores de Katan. Não existia meio de transporte. As pessoas andavam a pé ou com meios inventados em cima do joelho. Havia quem criasse, em 10 minutos, pequenas rodas de pedra com assentos de madeira que permitiam uma deslocação confortável de 20 km/h. Todos se deslocavam à pequena cabana para ver a criança. Traziam presentes. Uns levavam folhas de goiaça - uma árvore que apenas sobrevivia através das lágrimas humanas e por isso todos os que sentiam necessidade de chorar, dirigiam-se à Goiaça para cumprirem a tradição e darem uma vida saudável à árvore - como gesto de boas vindas e respeito pela vida de mais um membro, outros traziam pedra pomes que encontravam à beira-mar como forma de oficialização de parte integrante da comunidade e outros traziam ben-u-ron porque aquela tempestade tropical volta e meia dava febre. Se bem que aquele pêlo todo permitia algum resguardo ao bebé.

Esta era uma criança rara porque todas as noites, pelas três da manhã, ela crescia um ano e cinco centímetros. Em três semanas já era maior de idade e decidiu abandonar N’tara. Não teve muito tempo para se despedir de todos até porque não teve muito tempo para os conhecer. Quando atingiu a maioridade e antes de partir, foi visitar o vidente e curandeiro da ilha. Era o Igor. Outro sábio e com uma enorme vontade de dar um nome ao Homem-Pêlo. Aproveitou a visita para lhe dar alguns conselhos sobre o mundo lá fora. Quando se despediu exclamou: “Boa sorte Nicolau”. E assim ficou. Nicolau deixou N’tara a nado e pelo caminho encontrou a Vanessa Fernandes que rapidamente o congratulou pela sua exímia inteligência. Nicolau agradeceu e seguiu crawl até ao Pólo Norte.

Chegado ao frio, decidiu tomar um dos ben-u-ron’s que ainda tinha no bolso e vestir um roupão vermelho e branco para não apanhar uma constipação. Com os pés em terra, Nicolau chorou. Chorou de saudades de N’tara e implorava por uma Goiaça. Foram tempos difíceis mas rapidamente se habituou. De chuvas quentes passou a ventos fortes e frios com neve a cair de forma intensa de uma em uma hora. Rapidamente todos os seus pêlos ficaram brancos. Encontrou abrigo e ganhou um gosto especial por Cergal. Era a mais barata e também não estava para se chatear nem viver a contar trocos. Como todas as nossas opções têm consequências, Nicolau não conseguiu escapar e a inevitável barriga de cerveja veio para ficar. Passadas mais umas semanas, o Pai de N’tara com mais de 60 anos decidiu dar um passo na sua vida. Como não queria deixar as origens, optou por deixar sofrer uma pequena actualização no seu título. Ei-lo: O Pai Natal.

Final alternativo: convidou a Vanessa Fernandes para jantar no seu Iglo e procriaram. Nasceram lindas meninas repletas de pêlo mas desta vez a culpa era inteiramente da mãe.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A MINHA GERAÇÃO

Temos medo. Condenados ao endividamento e com receio do que nos possa aparecer à frente. A minha geração viverá melhor ou pior do que a geração dos meus pais? De forma totalmente diferente. Menos rendimentos, menos esperança e com menos hipótese de gastar seja no que for. Não temos empréstimos nem créditos para um investimento maior. Tempos virão em que a palavra “concretização” será dificilmente concretizada.

Durante muitos anos, “chapa ganha, chapa gasta” era estilo de vida da maioria. Todos planeamos o nosso futuro ainda que inconscientemente. Quero poder viajar com a minha mulher. Quero poder levar os meus filhos para além de Espanha. Quero poder ter filhos. Quero poder jantar fora ao fim-de-semana. A minha geração terá menos oportunidades para umas coisas mas terá mais para outras. E aqui viro a história. É fácil apontar o dedo. E o que mais nos sai da boca hoje em dia é um: “Foste tu!!”.

A minha geração vai ver a vida de outra forma. Vamos ter mais mobilidade profissional. E quando afirmo isto, afirmo no sentido em que 10 anos no mesmo sítio será de mais para nós. Vamos querer procurar outras coisas. A minha geração quer tentar “lá fora”. A minha geração poderá só conseguir lá fora. Temos sonhos e há sempre a tendência para o despertador nos acordar na sua melhor parte. Ainda bem que o faz. É para podermos concretizá-los. A minha geração vai recriar o que está banal. Vai voltar ao essencial e dar outro valor às coisas. E, com certeza, um valor muito maior a todo o a rodeia. A minha geração é a tua geração e tu queres o mesmo que eu: apostar, ganhar, concretizar, realizar. Espero que possamos um dia, ao jantar, todos juntos dizer: aquilo não eram apenas verbos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A ESCREVER

A escrever voo. A escrever marco. A escrever deixo. A escrever imagino. A escrever crio. A escrever liberto. A liberdade está à distância de uma caneta pousada numa folha em branco. Até lá, és um homem com limites. A escrever sinto. A escrever trato. A escrever curo. A escrever juro. A promessa numa folha de papel é feita entre ti e eles assim que levantas a caneta à ultima palavra. A escrever amo. A escrever desejo. A escrever faço. Faz o que gostas. Deixa quem mora ao lado e encara o espelho. Tens o mundo à porta.

domingo, 11 de novembro de 2012

ÉS MÁGICA E EU AMO-TE, RÁDIO!

Não falo de “bichinho” nem de vocação. Falo de relações humanas. Falo de contactos íntimos. De conversas tu-a-tu. A Rádio é o culminar da intimidade humana. A Rádio dá-nos liberdade, dá-nos asas para que possamos criar, para que possamos inventar e desvendar os mais ínfimos segredos do nosso dia-a-dia. Nunca tive consciência para quem falava nem quantas pessoas atingia.
Descobri a vontade de comunicar muito novo quando fazia espectáculos para o vazio e quando dei uma preocupação aos meus pais e familiares de que poderiam estar a lidar com um autista. Mas a minha cabeça estava apenas a criar, a imaginar e a viver momentos inventados por mim. Criei peças de teatro imaginárias, ouvi a ovação da plateia vazia e arrepiei-me. Anos mais tarde, com o meu dia-a-dia de emissão, percebi que era um bocadinho nesta perspectiva que as coisas funcionavam. Não temos a reacção imediata mas arrepiamo-nos.
Na rádio, apesar de estarmos entre quatro paredes, encontramos o mundo extrovertido, o mundo sociável e a boa disposição que passa para o “outro lado”. O nosso sentido de observação, seja ele invulgar ou não, tem impacto no dia-a-dia dos ouvintes. Temos identificação com as palavras, amor às histórias e partilha das vidas. Podemos estar a 1000 km de distância que quando o microfone é levantado e a luz vermelha acende, sentimos o calor do respirar como estivessem à nossa frente. Cada mail, cada mensagem, cada palavra de agradecimento que vem da rua ou do computador só vem carimbar toda a nossa vontade de querer fazer mais e chegar a mais pessoas.
“Obrigado por existirem” ; “Obrigado pela companhia” ; “Obrigado pela boa disposição”. É assustador como uma simples palavra de agradecimento quase que nos desconcerta e nos resume a lágrimas e arrepios. A Rádio é uma relação humana. Uma pessoa do lado de cá e outra do lado de lá. É para ti que falo e és tu quem muitas vezes também quero ouvir. Se não fosses tu escusava de levantar a via. O mundo muda quando estamos de Headphones, o mundo muda quando falamos. Sou só eu e tu e nada mais importa senão o calor das palavras. Obrigado...