Há muito tempo atrás, numa ilha deserta chamada N’tara, nascia uma criança com muito pêlo. As condições para o nascimento não eram as melhores dado que N’tara ficava no meio do oceano e nada havia à sua volta a não ser água. Era necessária uma preciosa ajuda humana e não ambiental. Ventos fortes e chuva quente davam as boas vindas ao novo rebento e membro da comunidade. Nesta ilha viviam apenas 300 habitantes. Uma população muito honesta e tradicional onde todos se cumprimentavam com o olhar. Não havia contacto físico. Tudo era feito através dos nossos olhos e de acordo com a intenção que vinha de dentro. Os olhos comandavam o resto. Sim, estás a perguntar: “Então como nasceu esta criança cheia de pêlo?” e a resposta é simples: dois N’tarianos contemplavam-se mútua e intensamente quando uma incontrolável tempestade tropical se abatia sobre a ilha e trazia com ela pequenos e soltos pedaços de lã e borboto do continente.
Esta criança não tinha nome. Todos pensavam que a desmedida quantidade de pêlos era doença e que a criança tinha pouco tempo de vida. Mas o que não sabiam era que estavam completamente enganados. Esta era uma criança rara, com uma inteligência acima da média e com conhecimentos de um verdadeiro superdotado. Mal tinha acabado de nascer e já sabia todas as línguas do mundo. Era estranha mas ao mesmo tempo era uma criança com um certo encanto e respeitada pois todos achavam que iria ser muito influente quando crescesse. Já o consideravam o Pai de N’tara.
Nesta ilha apenas existia madeira, pedra, trigo e ovelhas. E não, não sonhei com os descobridores de Katan. Não existia meio de transporte. As pessoas andavam a pé ou com meios inventados em cima do joelho. Havia quem criasse, em 10 minutos, pequenas rodas de pedra com assentos de madeira que permitiam uma deslocação confortável de 20 km/h. Todos se deslocavam à pequena cabana para ver a criança. Traziam presentes. Uns levavam folhas de goiaça - uma árvore que apenas sobrevivia através das lágrimas humanas e por isso todos os que sentiam necessidade de chorar, dirigiam-se à Goiaça para cumprirem a tradição e darem uma vida saudável à árvore - como gesto de boas vindas e respeito pela vida de mais um membro, outros traziam pedra pomes que encontravam à beira-mar como forma de oficialização de parte integrante da comunidade e outros traziam ben-u-ron porque aquela tempestade tropical volta e meia dava febre. Se bem que aquele pêlo todo permitia algum resguardo ao bebé.
Esta era uma criança rara porque todas as noites, pelas três da manhã, ela crescia um ano e cinco centímetros. Em três semanas já era maior de idade e decidiu abandonar N’tara. Não teve muito tempo para se despedir de todos até porque não teve muito tempo para os conhecer. Quando atingiu a maioridade e antes de partir, foi visitar o vidente e curandeiro da ilha. Era o Igor. Outro sábio e com uma enorme vontade de dar um nome ao Homem-Pêlo. Aproveitou a visita para lhe dar alguns conselhos sobre o mundo lá fora. Quando se despediu exclamou: “Boa sorte Nicolau”. E assim ficou. Nicolau deixou N’tara a nado e pelo caminho encontrou a Vanessa Fernandes que rapidamente o congratulou pela sua exímia inteligência. Nicolau agradeceu e seguiu crawl até ao Pólo Norte.
Chegado ao frio, decidiu tomar um dos ben-u-ron’s que ainda tinha no bolso e vestir um roupão vermelho e branco para não apanhar uma constipação. Com os pés em terra, Nicolau chorou. Chorou de saudades de N’tara e implorava por uma Goiaça. Foram tempos difíceis mas rapidamente se habituou. De chuvas quentes passou a ventos fortes e frios com neve a cair de forma intensa de uma em uma hora. Rapidamente todos os seus pêlos ficaram brancos. Encontrou abrigo e ganhou um gosto especial por Cergal. Era a mais barata e também não estava para se chatear nem viver a contar trocos. Como todas as nossas opções têm consequências, Nicolau não conseguiu escapar e a inevitável barriga de cerveja veio para ficar. Passadas mais umas semanas, o Pai de N’tara com mais de 60 anos decidiu dar um passo na sua vida. Como não queria deixar as origens, optou por deixar sofrer uma pequena actualização no seu título. Ei-lo: O Pai Natal.
Final alternativo: convidou a Vanessa Fernandes para jantar no seu Iglo e procriaram. Nasceram lindas meninas repletas de pêlo mas desta vez a culpa era inteiramente da mãe.