quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

OS TIOS

É fácil caracteriza-los. Sobretudo em jantares de família que é onde existe mais "sumo". Existem vários tipos de tios:

- O tio que contraria o pai: "Nem penses Miguel, os miúdos não saem hoje". "Vá, meninos venham cá, eu dou-vos dinheiro e trato do vosso pai não se preocupem".

- A tia que só veio a este mundo para tirar fotografias aos grupos de raparigas na praia: "Vá meninas, juntem-se lá" , "Tia, já chega" ; "Matilde, pare de fazer caretas, pelo amor de Deus".

- O tio "Sem Cerimónia" que é sempre o primeiro a chegar a qualquer tipo de jantar, serve-se de vinho, mete queijo numa tosta quadrada, senta-se ainda com a tosta entre os dentes, ajeita a perna, cruza-a e termina com um: "ahhhh maravilha. Conta coisas Pedro..."

- A tia que fuma 3 maços de Marlboro e tem voz de trailer de cinema.

- A tia que joga às cartas com o sobrinho do costume e apesar de ser mais de idade, não tem pudor em mandar um: "estás pronto para levar uma coça?"

- O tio que há 22 anos não sabe o que oferecer ao sobrinho pelos anos e limita-se a dar um beijinho na testa, dar o envelope e dizer: "Tome, não sabia o que queria. Compre o que quiser".

- O tio que se ri de uma forma estranha e ensurdecedora. A familia habituou-se mas se por ventura alguém de novo, convidado e alheio à família está por perto....diz: "Com licença" e vai à casa de banho pensar no assunto".

- O tio que passa o pré ou pós-jantar a receber chamadas de números que não conhece (normalmente para assuntos profissionais a resolver fora de horas). Quando o telemóvel toca, o tio mete a mão ao bolso pela 6ª vez, revira os olhos e antes de atender, discretamente, solta um: "Fo#"#$!! outra vez?"

- A tia que, apesar de convidada, faz questão de levantar os pratos da mesa juntamente com a anfitriã para depois ficarem na cozinha em jeito de "Corte e Costura".

- Para terminar, o tio que conhece a família há anos sem fim e em cada jantar pergunta o mesmo: "Zé Maria, onde é que é a casa-de-banho?" ; "O tio tá farto de saber. Segunda à esquerda" ; "Estava só a ver se estavas atento. Namoradas?"

OS BÊBADOS

À semelhança daquilo que escrevi sobre os tios, há também bastante "sumo" sobre todos aqueles que, à noite, esticam a corda no que toca ao álcool. Acontece aos melhores por isso, não é por aí. Será que dá para agrupa-los? Vamos ver:

- A mais conhecida delas todas: a bêbada que chora. Umas com um motivo forte para chorar e o álcool puxa a lágrima, outras simplesmente porque sim. 

- O bêbado mais conhecido como o "Já te disse hoje que gosto mesmo de ti?". Um copo pode fazer a diferença. Podemos ser indiferentes no seu dia-a-dia, passar despercebidos quando está por perto....se o menino bebe, não nos larga até nos convencer que somos mesmo importantes para ele.

- O bêbado que perde a carteira.

- O bêbado que perde o casaco e em vez de o procurar, diz: "f"#$%! Deram-nos nos anos!!!"

- A bêbada que dança e dança e dança....

- A bêbada que diz: "Não estou bêbada....juro que não estou......um bocadinho alegre só".

- O bêbado que vira a barcaça.

- O bêbado que segura na testa do que vira a barcaça.

- O bêbado que, ao mínimo encontrão, solta a mão quase que automaticamente em direcção à cara de quem aparecer.

- O bêbado que se perdeu......do resto dos bêbados.

- O que diz ao senhor da roulote: "É com tudo chefe!!!"

- O bêbado que abraça e fala ao ouvido num tom como de quem estivesse do outro lado da ponte.

- Aquele que tem por hábito dizer: "Caguei, com este gajo não vou! Taaxiii!!"

- Para terminar, e numa categoria um pouco diferente, temos aquele que pelas 11h da manhã diz: "Eiiiiishhhh que hoje vai ser uma coisa!! Vou-me destruir!! Vai correr mal pros meus lados!!!!! Segurem-me!!" e às 5h da manhã sai sóbrio da discoteca, encontra um amigo que lhe pergunta: "Então, estavas aí dentro sozinho?" ; "Estão lá os gajos....já não os aguento"

terça-feira, 15 de novembro de 2011

ABESPINHANÇOS”

Coisas que irritam. É sobre isto que te falo hoje, dia 14.11.11. “14.11.11?, o que é que isso tem de especial?” Não sei. A mesma coisa que o dia 11.11.11 às 11 e 11h. Um dia em que todos decidimos dissertar sobre isso. 
Todos nós nos agastamos com situações do nosso dia-a-dia. A começar por esta data, fiquei mais de 15 minutos a cogitar sobre a frase: “Eu sobrevivi ao dia 11.11.11”. Não cheguei a nenhuma conclusão.
Irritam-me as pessoas que falam ao telefone. Irritam-me as pessoas que tiraram o dia para fazer transferências no multibanco. Irritam-me as filas de trânsito. Irritam-me as pessoas que dizem “runião”. Irrita-me o tamanho da susana daquelas Mamas. Irritam-me as pessoas que gostam de passar a correr nas escadas rolantes. Irritam-me as pessoas que tiram senha para tirar dúvidas na Loja do Cidadão. Irritam-me as pessoas que nos abordam com a célebre: “Desculpe, são só dois minutinhos para lhe explicar o novo tarifário”. São as mesmas pessoas que gostam de multiplicar o 2 por 10. Mas não há nada mais tenebroso que o famoso truque “Ronaldo/Messi”. Aquelas situações constrangedoras em que duas pessoas caminham assim: ---> <--- e que mais tarde ou mais cedo se encontram cara a cara. Desviam-se para o mesmo lado. Começam no esquerdo, depois para o lado direito, numa jigajoga incrível que se tivessem uma bola nos pés era digno de aplauso no estádio. É um momento chato porque não sabemos como reagir. Esboçamos sempre um sorriso e acabamos com um “uoooi, peço desculpa”. Irritam-me os empregados que em vez de dizerem educadamente: “pedimos desculpa mas estamos a fechar”, começam a colocar as cadeiras da esplanada umas em cima das outras, a desmontar as mesas enquanto tossem de propósito.
Irritam-me hipopótamos que dançam a lambada e esquilos com auto-tune ao domingo à tarde. Taxistas que já desactivaram o taxímetro, já receberam o dinheiro, já deram o troco e ainda estão a falar do Governo. Bebés que choram ininterruptamente na missa. Sejam baptizados, casamentos ou missas normais de domingo. É de olhar para cima, pedir a Nosso Senhor pelos pobres, pelos oprimidos, pela paz e por uma chucha.
Irrita-me quando a tia não tirou a fotografia à primeira e temos que repetir o momento de soprar as velas. Dúvidas dos progenitores sobre o Facebook… é de bradar aos céus. Irritam-me quando tudo arranjou par para dançar o “Ai se eu te pego” e nós ficámos com o nosso melhor amigo e o “aguarde só um bocadinho aqui do lado esquerdo” vindo de um segurança.
Agora que estou a ver, pareço um urbano-depressivo que só se queixa da vida. Não! Isto foi uma pequena compilação de situações rotineiras. Há tanta coisa que me fascina. Mas isso fica para depois. Adeeeeus.

Gonçalo Câmara.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PRAZER.

Sempre me disseram que dormir fazia crescer. Se calhar foi daí que apanhei o jeito. Sou viciado na arte do dormitar embora continue pequeno. No entanto, agora acordar cedo faz parte da minha rotina. É um desafio. Sou um eterno apaixonado pelo mundo da rádio. Aqui consigo reunir, numa só coisa, os maiores prazeres da minha vida: música, humor, escrita, locução e comunicação. É pena não conseguir juntar-lhe a culinária. Às tantas, com a rapidez com que as coisas vão evoluindo, qualquer dia estou a fazer menus de degustação on air. A ver vamos. Para mim, não há melhor coisa do que começar o dia a rir.
Este sou eu. Pequeno mas com um elevado grau de "qualquer coisa que até agora não me lembrei de escrever". Prazer. GC

URBANO-DEPRESSIVO

Pelo nome se calhar não estás bem a ver o que é. Mas se prestares atenção àquilo que eu te vou contar, o caso vai mudar de figura. Ora vamos aqui analisar esta espécie em crescimento demográfico exponencial.

Numa linguagem entre amigos são chamados os “entalados da vida”. Tudo pode estar a correr bem que eles estão sempre importunados e consumidos com alguma coisa. Mas é interessante reparar que as chatices dos urbano-depressivos raramente ou nunca estão relacionadas com problemas económicos ou políticos. São mais questões existenciais. Galgam de um problema para o outro. A sua vida é um constante saltar de crise em crise. A maior parte delas têm a ver com a sua própria pessoa.
Músicas felizes? Não podem nem sequer cheirar. A felicidade irrita este tipo de pessoas. A sua depressão é alimentada por músicas que a maior parte das pessoas…… NÃO OUVE por muito mal que esteja. Se me perguntarem o que me vem à cabeça quando penso neste tipo de pessoas só me ocorre uma imagem a preto e branco de um eléctrico parado. Porquê? Não sei, ainda estou para descobrir.
Eles estão contra tudo sem saber bem como. O histórico amoroso é atestado por relações falhadas. Umas atrás das outras. Há sempre questões por resolver, mas sempre da parte deles, porque dos outros…está tudo resolvido. O urbano-depressivo precisa sempre de tirar um tempo para pensar…para curtir o “estar mal”. Quando algo sai errado, quando certas coisas não correram como o previsto, pensam sempre como é que contribuíram para aquilo acontecer.
Os pequenos prazeres da vida são perda de tempo. “Estou mal e adoro mostrá-lo. Se não me apetecer falar muito sobre isso, as minhas roupas dizem tudo”. Nada é fantástico, nada sabe bem. Gostam de conviver com pessoas que estejam ainda pior. Mas calma, o estar mal não está relacionado com o acto de chorar. Eles não choram. Não vá a lágrima ser de felicidade e isso é coisa de gente que vai ao cinema acompanhada.
A sua ocupação principal é nada mais, nada menos do que pensar e lamentar. Se saem à noite? Sim, pouco e sozinhos. Ou então, o mais frequente é ficarem em casa, igualmente sozinhos. Barulho? Apenas o da televisão ligada ao longe e da garrafa a bater no copo ao enchê-lo. Já alguém dizia e cito: “Serem denominados de alternativos enche-os de orgulho. A sua cidade de eleição é Budapeste, pela sobriedade da mesma. Perfume de eleição? Não têm, não usam, é coisa de gente pop.” O urbano-depressivo é um ser aborrecido. Os seus melhores amigos são os cigarros que têm à mão.

Nunca se consegue manter um diálogo normal com um urbano-depressivo. Se os temas girarem à volta do “copo meio vazio ou meio cheio” eles vão sempre dizer que o copo está TODO vazio. GC

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CHINESES? UMA PEÇA.


A primeira coisa em que as pessoas reparam nos chineses é, obviamente, a forma dos olhos. É sempre a marca mais profunda e distintiva de um chinês. Até porque se a palavra for pronunciada ao nosso lado, rapidamente afiguramos um indivíduo de vista acamada. No entanto, a maneira de ser e as suas atitudes também deixam muita matéria de derriço à mão de semear. O povo chinês é um povo extremamente interessante. Não só por ficarmos embasbacados com a forma como trabalham e produzem riqueza mas também pela sua maneira peculiar de agir em certas e determinadas situações do dia-a-dia. Li num artigo que num belo dia, um condutor foi apanhado pelas câmaras de trânsito numa estrada na província chinesa de Sichuan a apalpar os seios de uma mulher que viajava ao seu lado enquanto conduzia. Diz-se que a jovem que ia com ele no carro não era a sua mulher e quando perguntaram ao “olhinhos em bico” o porquê de ter apalpado os regaços da menina, ele respondeu que apenas lhe estava a dar uma massagem. Pois claro. Não se vê logo? Aliás, eu tenho sempre por hábito indagar peitos de amigas quando me pedem boleia para algum lado. Só para ver se está tudo bem, se estão tensas, se precisam de alguma coisa. Situações perfeitamente vulgares onde exibimos todo o nosso cavalheirismo. Há quem apalpe mesmo o corpo todo contra a vontade da outra pessoa e depois explique que estava apenas a dar aulas de Yoga. Assédios? Violações? Essa agora! Carinho meus amigos, apenas carinho…
A todos os que acham que é mito o facto dos chineses serem omnipresentes, há factos que nos mostram o contrário. Há relíquias que podem mudar a vossa opinião. Eles andam mesmo em todo o lado. Numa pequena aldeola em pleno Alentejo, existe uma loja dos chineses com características um tudo ou nada interessantes. Os proprietários da loja mostram alguma fusão de culturas quando nos fazem perceber que são tão lentos quanto os nativos da zona. A loja tem uma imensa variedade de corta-unhas da Hello Kitty mas como têm a mania que são alternativos, chamam-lhe Hell Kitt….não está mau. Há também uma gama colossal de “Gellettes 3”. O slogan é giro confesso: “ Com Gellettes 3, é f**** fazer a barba ao chinês”. Vida louca esta a das "Ásias".

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

JÁ VISTE AQUILO?

Ainda num fim-de-semana destes que passou por nós a correr (como sempre) fui dar de caras novamente com o famoso talho de Vila Nova de Milfontes. Nunca cheguei a entrar lá dentro e, sinceramente, não sei se quero. É óbvio que existem inúmeros e variados talhos em terras alentejanas mas a comunicar como este, nunca vi
"TALHO CABECINHA - O prazer de uma boa carne". Já falei disto várias vezes mas a pergunta mantém-se: isto é um talho ou uma sex-shop para desesperadas de 1,20m, buço e avental?

"TALHO CABECINHA - O prazer de uma boa carne".................Boa noite.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

AQUILO LÁ DOS “MAGOS” NA PERSPECTIVA DO CRIADOR

Pois é! Faz um ano que três marmanjos deram à luz um “monstro”. Desenvolveram aquilo que hoje é uma sátira social. Um forrobodó dos hábitos dos mais novos, os costumes e portes da geração dos “-intes” e “-intas”. Tudo não passava de uma mera e genuína brincadeira entre três amigos em conversa de betesga. Da conversa resultou uma expressão, de uma expressão seguiu-se uma página, de uma página redundou um conceito e uma marca que hoje em dia se “derrama” por Lisboa. Começou com os seus primeiros seguidores e, no panorama dos criadores, nunca acreditámos ultrapassar os 500 fãs. Tínhamos presente que muito do que se articulava, das expressões, das posturas e das modas eram situações e matéria-prima assente apenas por algumas pessoas. Amigos, amigos dos amigos e conhecidos “lá do longe” e pronto. Mas não. Chegaram os primeiros mil, depois os segundos, os terceiros e quartos até que chegámos ao que somos hoje. Mais de 30.000 seguidores d’Os Magos do Social. Tivemos que nos acomodar é verdade. Moldámo-nos um pouco à volta do nosso público porque não poderíamos instar com as inaugurais “private jokes”  e expressões que só eram versadas por um pequeno âmago de pessoas. Prorrogámos as piadas e principiámos com um retrato mais abrangente das pessoas da nossa idade e também mais velhas. Velozmente conhecemos quem eram os nossos fidedignos e também percebemos quem eram os nossos inimigos. Muitos fizeram questão de o “expor” na página. Quanto às críticas, penso que não há muito a dizer. É um processo perfeitamente habitual e passável. Muitos sentiram-se instigados com alguns dos posts, outros levaram na desportiva. Nunca quisemos entrar em polémicas e controvérsias até porque, na perspectiva de quem escreve o post, nunca sabemos as razões que levam o seguidor a comentar e a glosar certas e motivadas frases. O humor não é universal.
Aquilo que sempre fizemos questão de retratar e satirizar foram as situações cómicas do dia-a-dia das pessoas e, como é óbvio, dando algum ênfase àquilo a que chamamos de “betalhada”.  
A expressão “Mago” brotou de um dos criadores que rapidamente nos esclareceu ao proferir tal palavra. Muitos perguntam o porquê de Mago. “Mago” não é um estatuto, não é um decreto, uma casta nem um rótulo. É uma simples palavra. Uma mera expressão. Não é que “se cole na testa” a palavra Mago àquele que tem iPhone ou / e Blackberry ou àquele que dá um beijinho ou dois beijinhos. O estereótipo foi criado há muito tempo atrás. A palavra Mago tem um ano mas tudo aquilo que temos vindo a expor e a retratar ao longo deste ano já existe há mais de um século. “O estereótipo está criado, nós gozamos com ele”. Nunca quisemos definir condutas ou acções nem criar modas porque elas próprias já foram criadas por esses tais “Magos”. Não foi uma pessoa que decidiu, foram várias e ao longo dos tempos.
Não se pode levar a peito aquilo que se fala na página. Assisti a uma situação de uma pessoa que, no início da página, já tinha um BlackBerry e ao perceber que a palavra Mago era atribuída a quem tinha o Blackberry e o iPhone, foi à Apple e estoirou a sua mesada. Quando soube disto fiquei um pouco reticente e hesitante quanto ao poder de opinião que tínhamos nas mãos mas rapidamente fizemos por esclarecer que nós não somos ditadores de regras. Simplesmente temos a capacidade e a sensibilidade de perceber que as modas existem, vão e vêm. Conseguimos captar pequenos gestos, pequenas disposições das pessoas de forma a tornar o comentário engraçado. “Isso é tão verdade” foi das coisas mais lidas nos comentários aos posts e é nessa linha que queremos continuar a trabalhar e a proporcionar bons momentos de “leitura” aos seguidores. Muitos não se conformam com este conceito. Parece que é uma doença. “Mago, eu? Achas, nunca!” Tudo aquilo que se torna conhecido e falado por todos, rapidamente é motivo para muita gente se distanciar. Como todos já sabem o que é, já falam disso e já “gostam” então eu vou clicar em “Não gosto” porque não me quero agregar. Começa a ser moda ser diferente. Por isso é que achamos que os verdadeiros Magos são aqueles que todos os dias seguiram a página, leram todos os comentários, comentaram entre amigos mas nunca, jamais em tempo algum, iriam meter um “Gosto”. E lá continuam….discretos…tendo consciência que é uma marca onde se sentem que “tudo se sabe, mas ninguém revela”. GC

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A ALEGRIA E LIBERDADE AO MANDAR UMA "FARPA"


Há quem enjeite os palavrões e que frua de alergias mentais às pequenas “asneiras” que avezam sair da boca para fora no dia-a-dia mas, essas mesmas pessoas, muitas vezes mostram alguma curiosidade em ler algo de Gregório de Matos ou Bocage. Estranho? Talvez. Às vezes receamos o absurdo. Fugimos do que é assunto tabu. Fugimos ao que não é normal e rotineiro. Mas há uma coisa que é certa: a flatulência até pode ser tabu mas é a coisa mais rotineira na vida de um homem. Sim, estou a falar de traques. Não há que ter pavor de falar abertamente de traques. É como falar de rir, ou chorar. Há quem lhe alcunhe traque, peido, bufa, pum, vergílio, ginja. Todas as palavras que servem para designar a expressão técnica e correcta “ventosidade anal” são subterfúgio para soltar uma gargalhada, tal como o acto em si.
A razão pela qual escrevo é tão simples como perceber que, num jantar entre amigos onde alguém puxa para cima da mesa o tema da flatulência, a expressão “é das maiores liberdades do homem” é das coisas mais acertadas da existência masculina. Estar sozinho e soltar um gás é como andar de mão dada com a Heidi pelas montanhas suíças. Alias, temo até que Johanna Spyri se tenha inspirado através destes “caminhos” no início dos anos 80. Pertence ao ser humano. É profundo e vem do íntimo. Elas dizem que não. Que não dão, que não conseguem. Façam um esforço, a sério. A vida masculina sem um peido é como o futebol sem golos. É chato e pouco atractivo. Nasce connosco e morre connosco…ou faz morrer outros mais cedo também. Pode ser estrepitoso ou não mas a fetidez é-lhe inerente. Faz-nos rir pelo seu fragor singular mas a verdade é que é útil. Sim, útil! O que os drogados ainda não perceberam é que a alegria de libertar o metano coopera vinte e uma vezes mais que o dióxido de carbono para o efeito estufa.
Acontece a todos. É embaraçoso eu sei, mas no conchego de um quarto silencioso onde o mundo está lá fora é um deleite que o homem tem. Muitas vezes o homem permanece tão satisfeito que faz por sentir-se “livre” vezes sem conta. Mas há que ter ponderação. Há situações e situações. Nunca esperamos desaferrolhar um flato quando nos baixamos para ir buscar o saco das compras, ou quando nos colocamos de cócoras para abraçar a nossa afilhada. Foi-nos assestada uma tarefa desmedida mas ainda está para ser descoberta uma melhor solução para sair deste apuro do que um mero:  “andam por aqui sapos ou quê?”. É uma situação que acompanha as discrepantes etapas da vida. Em bebés e crianças não há que tentar apontar o dedo porque elas próprias fazem caras reveladoras ou dizem “di um pum”. Nos adolescentes e jovens adultos há quem peça mesmo para “puxar o dedo” para posteriormente se adular com a sua capacidade e engenho de soltar os prisioneiros. Quanto aos adultos, existem os que barafustam ao ouvir e também ao dar. Grazinam-se a eles mesmos (já assisti e deu-me um tremelique no sobrolho). E existem os que, no regalo e à vontade com os sobrinhos, também desvendam a sua raridade. Quanto aos idosos, não vou querer entrar por aí.
É constrangedor quando se sente “chegar a hora” e temos alguém com quem sentimos aquela cortesia ao nosso lado. Se esse alguém for uma possível futura namorada, das duas uma: ou se contrai e se sofre durante uns segundos, ou passamos por pessoas que não sabem mentir ao dizer: “foste tu!”
 “Que nojo?” Mas porquê? Porquê não pensar que todas as criaturas da terra podem ficar varadas ao escutar tal ode? Depois de o afrouxar, no abrando e translúcido azul do céu sente-se sempre o sabor da conquista. Em família até admito que seja complicado porque há sempre o filho reguila que os honra despachar e não há ouvido maternal que tolere, mas de resto. Façam-se ouvir. Vamos lá a perceber, longe de mim tornar o nosso dia-a-dia um musical. Até porque há sítios e sítios para o fazer. Quando passamos Aveiro na auto-estrada estamos à vontade, ou quando visitamos as caldeiras das furnas, em S. Miguel. Sem problema.
Todos nós já vivemos momentos aflitivos, já transmitimos olhares ingénuos para os pardalinhos a saltar no cascalho húmido como forma de disfarce. Todos nós já demos valor e agradecemos a brisa que cessava as árvores na altura do “desapegue”.  Como diria o outro: “Nunca deixem de sentir o vento e a alegria de mandar uma farpa”. GC