quinta-feira, 2 de maio de 2013

O MEU BIGODE TEM PORTAGEM



“O meu bigode tem portagem”. Esta é a expressão correcta que designa todo o dilema de um jovem adulto com problemas de penugem. Ah, como é frustrante estar rodeado de gente com pêlo. Barba grande, barba lisa. Bigode espesso e aparado. Todos os dias convivo com pessoas que estão de bem com a barba. Relação intrínseca esta do pêlo com a pessoa. Aparece com a mania que é boa e diz que veio para ficar.

Afirma-se protectora e convence-nos da sua eficácia. Gostava de poder viver esta experiência e esta relação de amor/ódio com a barba. De manhã olho em frente e vejo grupos. Grupos de pêlos espalhados pelo rosto. Uns mais pequenos dando a ideia de grupo à parte. Não se querem dar com os outros demais prolongamentos filiformes que cresceram com esperança. É a chamada penugem díspar e insegura. Malditos que cortaram relações com a epiderme. Lado esquerdo e lado direito. Muito em cima e pouco em baixo. Disforme de frente e repugnante de perfil.

Não sou o único que vive esta angústia todas as manhãs e que atinge o culminar de um desespero quando lá vai de gillette. Três minutos depois, o dilema cai no esquecimento. Mas vai com ar peneirento e com a certeza de que volta passadas duas semanas. Lá estão eles outra vez. Aparecem com vergonha. Timidez para com o folículo piloso e resistentes à protecção térmica. Apareçam e dêem-me algum estilo por favor.

Meses e anos neste conflito. Desisto mas ganho motivação para deixar o bigode. Este mais atento aos meus problemas e mais solidário com a minha imagem. Negócio fechado. Aparece com estilo mas vem com portagem. Noto alguma altivez no seu discurso e na sua maneira de aparecer. Como quem diz: “dou-te o que precisas mas tenho condições porque hoje em dia nada é de borla. Também não está fácil para mim” Presunçoso e arrogante o cabrão do bigode. Dá-me nervos mas preciso dele “Cresço nas pontas e dou-te um toque de classe monárquica mas estamos em tempo de contenção. Não apareço no meio. Dá-me trabalho.”
“Mariachi, Cantinflas, filósofo e Vanessa Fernandes”, já me chamaram de tudo mas sei que tenho o poder quando a lâmina está do meu lado. O gajo sabe que tem portagem, mas eu vou de via verde.

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