quarta-feira, 27 de junho de 2012

"EURO 2012"

Há momentos mágicos e os meses do europeu contribuem para essa mística que paira no ar. Parou em Portugal, parou em qualquer país presente nas eliminatórias. Há quem desligue as luzes durante o ano com o tema do futebol mas há quem seja o primeiro a ligar o interruptor na hora de começar o Euro. As convocatórias, as conferências de imprensa, os treinos, as apostas, as conversas e as discussões.

Tudo isto faz parte de um sentimento estranho e de uma ligação muito forte ao desporto-rei. Revivemos a história, revivemos a glória. Olhamos para trás e trazemos ao presente vozes marcantes como Jorge Perestrelo. Recordamos os gritos e as palavras que nos arrepiaram a espinha. Motivamo-nos uns aos outros e todos motivamos a nossa selecção. Portugal. Esse país pequeno em tamanho e grande em história.

Na guerra, nos descobrimentos, na glória e no futebol. Eusébio fez-nos chorar. Ronaldo fez-nos acreditar. 23 seres humanos que elevaram o ego do nosso país. 23 seres humanos que trouxeram alegria ao dia-a-dia dos trabalhadores, ao dia-a-dia dos cidadãos. Portugal escutou Nuno Matos ao cantar o segundo golo de Ronaldo frente à Holanda. Nuno Matos arrepiou os adeptos e trouxe a emoção do relvado para nossas casas. Helder Conduto cativou-nos com a sua experiência e sabedoria. João Ricardo Pateiro cantou-nos ao ouvido.

É bom ver os profissionais e sentir que podemos provocar emoções nas pessoas, reacções, sentimentos. Falando de uma forma pessoal, uma vez que sou eu que escrevo, sinto-me orgulhoso e privilegiado por saber que estão na minha área. Que são a ponte de ligação entre os nossos queridos atletas e guerreiros e a nossa população.

Cada jogador, à sua maneira, deu que falar. Houve elogios, houve críticas. Houve risos e palavrões. Houve partilha e houve lágrimas. Milhões de corações bateram e muitos hinos de entoaram. Trauteando ou não, a intenção esteve lá e o país precisa de sentir que.....não somos 11 por todos e todos por 11 mas sim todos por 10 milhões.

A vida continua e o dia de amanhã volta a fazer questão de relembrar a palavra: "crise". Crise. Crise é mudança. E a nossa selecção mudou-nos. Fez-nos rir quando poderíamos estar em casa no computador; fez-nos chorar quando poderíamos estar a trabalhar; fez-nos saltar quando poderíamos estar a dar um mergulho na praia ou a tomar um copo com outros amigos. Portugal mudou-nos e é tempo de mudarmos também.

Comecemos por erguer a cabeça e dizer: "Bom dia....vamos a isso?" GC

quinta-feira, 14 de junho de 2012

NOITES COM GENTE DENTRO


Escrever uma espécie de agradecimento profundo ou uma outra qualquer lamechice não seria tão galante como aquilo que tenho para vos dizer. São noites inigualáveis, de convívio (a maior parte dele esquecível) e de amigos. UNKNOWN. Uma noite de sexta começa à quarta. De facebook ligado, somos convidados a presenciar mais uma festa no final da semana. Segue-se a quinta. De facebook, ligado somos identificados em montagens produzidas pelos próprios relações públicas como forma de promoção à noite do dia seguinte. Chega a sexta. "Tou? Câmara? Tou a sair do escritório. Jantamos?". Perguntar o sítio e o restaurante é o mesmo que perguntar se os gatos miam por isso a chamada desliga-se. "Tou? Martim? Sakana!" - "Tão pá? Passaste-te?" - "Não burro, tou a perguntar se não queres ir ao sushi". As combinações processam-se e os amigos juntam-se. "Tou? Cascais?". Marcação feita. As vezes que lá jantamos são de tal forma desmedidas que avizinham-se chamadas deste género: "Tou? Cascais?" - "Sim, marcado" - "Obrigado". 

Serviço exímio, peixe de qualidade e sangria de matar. São praticamente três horas bem passadas com música ambiente e um ou outro: "Se puderes trazer mais Nigiris fico-te eternamente grato". A noite aproxima-se e as pessoas vão chegando. Se algum dia vires um cavalheiro cujo apelido é Mangueira, que utiliza o polegar e o indicador para dar festinhas ao bigode a caminho do bar....foge! Quando se aproxima, viro-me de costas, tocam-me no ombro: “Tão rapaz? És Tenente ou és Capitão? Bora!” E aí vai um. “Shot do Mangueira” é marca registada. Maravilhoso mas se o vires outra vez.....foge mesmo!
Há quem me chame de doente por estar de pé no Urban toda a santa sexta. Há quem chegue a mandar mensagens como: “Câmara, faço anos esta sexta e queria convidar-te para a minha festa nos Meninos do Rio. Sei que estás sempre no Urban, desculpa mas foi o sítio que arranjei mais perto para que ainda te pudesses sentir em casa”. Obrigado. “Vais sexta ao Urban?” e “Respiras?” são a mesma questão. (Martim, 20 euros sff). 

A equipa de relações públicas é composta por pessoas muito distintas o que torna o grupo muito criativo e versátil. “Senha” é a palavra mais proferida durante a noite, copo vazio significa “Onde está o Martim Lima” e “Nuno Castro” é a pessoa mais procurada. O espaço é provocante e sedutor e eu nunca me senti tão confortável num bar colado a uma casa de banho. Obrigado Pépe. A noite faz-se, a noite acontece. Há quem se dispa depois de um “Danza Kuduro”, há quem berre com o “Amor de Julieta” e há quem se baixe ao máximo de forma a conseguir espreitar ao som de um “Levanta o Vestido”. Muitos têm pena dos relações públicas com a justificação de que estão sempre de um lado para o outro, estão sempre a ser abordados, há sempre quem chame por eles. Não tenham pena. Nunca conheci forma mais eficaz de despachar uma pessoa chata do que como: “Tenho que ir à porta”. UNKNOWN é um bom nome. Confesso que não me apercebi  do seu significado mas também não importa. Como somos seres livres de escolher e podemos tirar as nossas próprias ilações vou entender UNKNOWN como É “Desconhecida” a forma como cheguei a casa. 

Uns vão, outros chegam. Os amigos juntam-se e a noite continua sempre com o Cristo Rei lá ao longe em posição de: “Então e o meu Vodka?”. O Tejo ganha outra dimensão com este espaço, com estas pessoas, com este espírito. As luzes do Wonder ficam azuis, é para sair. Quem ainda não se apercebeu disso, não há problema que há um senhor alto e largo que faz questão de lembrar. Acompanhados ou sozinhos, não saem de lá sem passar pela caixa. Rezando o terço para te lembrares do código do cartão e mais uma dezena para que o recibo seja simpático. Passa cartão e vai-te embora. Sexta vemo-nos por aí ;)

O SORRISO DE UMA CRIANÇA DOENTE.


Estive muito tempo a pensar o que poderia escrever. A tentar perceber o que poderia testemunhar sobre a minha visita ao IPO. O convite foi feito por uma professora universitária e foi aceite no momento. “Acho-te capaz de animares as crianças. Do que te conheço, confio que és pessoa para levar este desafio para a frente”. Na altura não pensei duas vezes. “Sim, com certeza.” Um dia antes da minha visita não conseguia pegar numa chávena de café, tremia quando chegava a colher à boca, algo de muito estranho estava a acontecer comigo. Parei para pensar na responsabilidade que tinha pela frente. Confesso que várias vezes me passaram desculpas pela cabeça para não aparecer mas alguma coisa mais forte me apertou o coração.

 

Dia da visita. Tinha uma hora pela frente para conviver com as crianças, para animar com histórias, contos, jogos. Consegui retirar sorrisos, gargalhadas, gestos e algumas palavras de crianças a quem o futuro não iria sorrir. A cada minuto que passava dentro daquelas instalações o aperto na garganta ficava mais forte. Como uma vez disse Ricardo Araújo Pereira numa outra visita ao IPO: “Fazer aquelas crianças rir é fácil. Uma pessoa diz cocó e elas riem-se. Mas mais marcante ainda do que conseguir o sorriso de uma criança, é conseguir um sorriso dos pais que as acompanham todos os dias”.

 

Foram momentos de absoluto discernimento do que é valioso ou não. Daquilo que vale a pena ou que é para ignorar. Passaram por mim rostos de adultos a quem a sombra se apoderou. Vi olhares a quem a esperança deixou. Mas vi gestos nas crianças de uma inocência absolutamente inabalável de quem sentia segurança e protecção. “Conta mais uma mas sem que o cavalo fique doente”. Confesso que nunca fui bom a inventar histórias mas senti-me criativo durante uma hora e meia. “Acho que o senhor cabeçudo devia pedir desculpas à princesa”. Não esqueço vozes. Não esqueço rostos. Não esqueço palavras nem a entrega de quem lá trabalha.

 

Quando pensamos que nada vale a pena daqui para a frente quando uma má notícia nos é dada, o melhor é pensarmos que tudo aquilo que temos pela frente valerá mais do que qualquer outra coisa. Ainda que sejam meses, dias ou ínfimas horas. Se calhar, quando lá voltar, algumas crianças podem já não lá estar. Quando lá voltar posso encontrar novas pessoas, novos pais, novos desafios. Mas há algo que vou sempre viver: um sentimento de ternura, de amizade e de agradecimento por quem me dá a mão. Uma mão de 5 cm, uma mão de criança e um olhar de quem quer “mais uma história”. A história faço-a eu. Agora. De noite. Com o pensamento do: “amanhã é mais um dia”. É. E cabe-me a mim construí-lo e desenhá-lo de modo a que me deite e pense: “Valeu a pena”.

 

Senti que a “Esperança” ganhou condimentos. Um sentimento de que se pode ir um bocadinho mais longe; nem que seja na forma como lidamos com os outros no dia-a-dia. Aquelas crianças podem não saber o que é, mas souberam transmiti-la a quem está do lado de cá da cama. Gostava de voltar e reencontrar o Marco, o André, a Teresa, o Joaquim e a Maria. Foi das melhores tardes da minha vida e nunca vou esquecer o que pode um sorriso de um doente fazer no resto do meu dia.

Gonçalo Câmara