quinta-feira, 2 de maio de 2013

"PSHHT Ó FÁCHAVOR"



O português é castiço. Portugal tem um povo genuíno com um estilo inconfundível. Há formas e expressões que são nossas. Muito nossas e nos distinguem do que está fora deste rectângulo. Seja um empregado de café, seja um mecânico, um paquete, um taxista. Temos pérolas escondidas nas zonas mais recônditas do país. Pessoas por entre as demais ruelas de Lisboa e Porto. A "chico-espertiçe" é muito portuguesa, muito lusitana.

Há gestos e comportamentos que nos distinguem, que nos caracterizam, que nos tornam tão diferentes e tão especiais. É estar atento. É ouvir com atenção o empregado de balcão com a célebre frase do "queria, já não quer?" enquanto passa um pano por debaixo da bandeja. Nós suspiramos porque já não temos argumentos para usar perante tal expressão. O sorriso matreiro está presente. Só o dente é que não. Mas faz parte de nós. A genuinidade passa por aqui. O senhor do quiosque. Ele já sabe o que tu fumas, ele já sabe o que tu lês. "São 3 euros e meio", estende-te a mão calejada e cheia de vida. Tem troco e unhas por cortar. É ser popular. É ouvir o fantástico decibel acima do previsto nos mercados. Cheiro a mar que está tão perto. "Pshht ó fachavor" é marca registada do empregado que te serve todos os dias aquilo que faz com que trabalhes mais bem disposto, ou mais acordado.

Uma viagem de táxi sem uma: "p*ta que pariu o trânsito" ou "ca granda regueifa" é banal. O bigode amarelo no meio de quem já teve uma relação com J&B, a barriga de quem já se envolveu com uma imperial, as bochechas rosadas de quem trai com o tino. Alentejo, Douro, Dão. Temos muito. Temos bons.

O que seria de nós sem o "eiiiish ó amigo, isto está complicado" do mecânico que o podia ter arranjado mas fez outras coisas. A nossa genuinidade passa por aqui juntamente com expressões que só o rosto de um português conhece. Não é má educação, é um modo de vida. Não fazem mal, não mordem, são irmãos. Nos Açores soltam a palavra "jagode", cá usa-se o "labrego". Porquê? Não, é a simplicidade de um povo que já viu muita coisa com o passar do tempo. Na baixa da cidade ou na alta, estão escondidos. Nos Santos Populares, revelam-se, mostram-se ao país.

Pessoas com histórias de vida incríveis, pessoas que não fizeram nada, pessoas que acordam, que se sentam e que discutem. Falam muito, falam bem e falam mais. Estão perto e dão-nos o topping popular.

Um bem haja, Portugal castiço!

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